Análise: Como um filme pró-golpe (falso!) de 1964 viralizou nas redes sociais
Pesquisador descreve os 3 passos da estratégia usada por influenciadores e sites sem credibilidade (veja a credibilidade dele logo abaixo da primeira foto no *) para fomentar a polarização virtual
9 abr 2019, 16h36 - Publicado em 9 abr 2019, 16h03
Exército durante a Ditadura Militar de 1964 (Bettmann / Contributor/Getty Images)
*Autor na Iniciação Cientifica da tese "O ingresso da Venezuela no Mercosul: análise dos aspectos políticos e econômicos", onde descreve "...A importância do tema justifica-se pela importância que o bloco adquiriria com a adesão desse novo país, tendo em vista a ampliação dos mercados consumidores e das reservas petrolíferas do bloco."
Artigo de Rafael Goldzweig, coordenador de análise de redes sociais na Democracy Reporting International
Na última semana, o filme pró-ditadura militar “1964, o Brasil entre armas e livros” ganhou atenção nas redes sociais e se tornou um dos vídeos mais assistidos no Youtube, superando 3 milhões de acessos (já está em 5,9 milhões) em menos de três dias.
O filme capitaliza em cima da controvérsia, gerada pelo governo Bolsonaro, de comemorar a data do golpe como uma “revolução democrática” por meio de contas oficiais do Planalto. (falso: esse filme vem sendo produzido muito antes da "controvérsia" e o Brasil Paralelo já o divulgava antes.)
Simpatizantes do atual governo têm uma rede virtual muito ativa e sabem utilizá-las para mexer com a opinião pública. A receita é explorar controvérsias e polarizar a sociedade em torno de temas ideológicos. (falso de novo. O governo anterior é quem polarizava a sociedade).
Como funciona essa estratégia?
Já não há dúvida de que as redes sociais influenciaram decisivamente nas eleições de 2018, apesar de restarem dúvidas sobre como isso foi feito.
As redes sociais são uma forma descentralizada de divulgação. Não a toa sujeitos como o Sr Goldzweig não gostam, pois ele perde poder com isso. E também não entenderam ainda como pode isso?! Ou seja: "que diabos! papai pagou um curso na USP para mim e tenho que me sujeitar a idiotas das redes sociais?"
As redes sociais dão voz a diversos movimentos e personagens que antes eram negligenciados, mas também dão margem para manipulações. Claro, claro. Certamente a grande imprensa não manipula... Sei.
Elas foram usadas para acelerar perseguições a grupos minoritários em Myanmar e difundir discurso de ódio (Aim que ódio!!) a mulheres no Paquistão, além de influenciar de diversas maneiras eleições na Europa e Estados Unidos.
Essa instrumentalização das redes tem uma fórmula comum (parece que ele sabe a fórmula! Mas ali em cima disse que tinha dúvida... Acho que ele está confuso. Ou é confuso!), mas que é replicada para cada contexto político. Bolsonaro seguiu em 2018 a cartilha usada por Trump em 2016. Sempre tem que colocar o "odioso" Trump... Só falta o Nazismo!
Além de ampliar a cacofonia (que soam mal... Soariam bem se falassem do Haddad?), as redes sociais também incentivam políticos a continuar em campanha mesmo após terem vencido eleições.
No Brasil, redes simpáticas aos valores de direita no Brasil não foram só um mecanismo de campanha, mas continuam sendo uma ferramenta de mobilização da opinião política no governo atual.
Um estudo sobre as eleições de 2018 mostrou que redes de direita foram três vezes menores que redes de centro-esquerda em termos absolutos, mas geraram cerca de 10 vezes mais conteúdo do que elas. Algo a ver com produtividade, trabalho?
Em outras palavras, ainda que minoritárias, ideias associadas à direita pareceram maioria nas redes sociais.
O vídeo que repercutiu nas redes se beneficiou de uma rede que podemos separar em dois grupos: páginas de baixa credibilidade jornalística (Crível mesmo é a Exame. Sei.) e páginas de influenciadores.
Cada qual tem seu papel na transmissão de informação, e ambas são ativadas sempre que o objetivo é mexer com a opinião das pessoas nas redes sociais.
Veja como isso acontece em três estágios:
Ato um: crie uma controvérsia
A relativização do golpe militar de 1964 vem acontecendo de maneira esparsa desde a campanha, mas somente agora essa relativização ganha ares de suposta credibilidade com a publicação do documentário.
O filme, produzido pelo portal Brasil Paralelo, visa dar voz a especialistas que recontam a história do golpe como um movimento democrático. (Falso: é só ver o filme! Acho que esse infeliz não viu!)
É algo que guarda semelhanças com a associação feita por membros do governo entre nazismo (Bingo!!!!!) e esquerda ou a invenção de fatos como o Kit Gay, por exemplo.
O fato por si só não tem o poder de gerar debate popular, mas é ai que as redes se ativam para esse fim.
Ato dois: chame atenção sobre ela
Controvérsia criada, é hora de chamar atenção sobre ela. Tradicionalmente, a mídia é responsável por transmitir à população as informações sobre o que acontece nas esfera política, econômica e social.
Mas em tempos de redes sociais, a informação não é mais monopólio da mídia, (que dó!) e outros atores se usam delas para dar um ar de credibilidade à questão, sem que estejam sujeitos a padrões éticos de jornalismo como meios de comunicação tradicionais. Padrões éticos? Não cheguei nem no meio do texto dele e já detectei pelo menos 3 afirmações falsas! Deve ser padrão ético de quadrilha! Aí sim!
Compilei as repercussões geradas em torno do filme nos três dias depois que ele foi carregado no YouTube. Coletei dados de noticias contendo o título pelo Buzzsumo, uma plataforma que analisa a repercussão de um tema em diferentes redes sociais.
Antes do lançamento, podemos ver a movimentação partindo dos sites Conexão Política e Avança Brasil.
| Página de publicação | Compartilhamentos | ||
|---|---|---|---|
| Conexão Política | 2.920 | 1.196 | 1.724 |
| Avança Brasil | 748 | 747 | 1 |
A primeira teve sua página de Facebook criada em 3 de janeiro de 2019, e se intitula como imprensa livre, ainda que não seja claro quem está por trás dela: (Por trás da grande imprensa sabemos quem está! O Sr Goldzweig não acredita que milhares de pequenos contribuidores podem sustentar um site e até uma produtora de filmes como o Brasil Paralelo sem ter ajuda de um grande patrocinador ou do Estado)

A página Avança Brasil, por sua vez, parece ter mais conhecimento sobre o ponto da carne do que sobre a política brasileira:
O Avança Brasil se chamava "Montana Grill express". E isso é péssimo! Bom mesmo é defender a entrada da Venezuela no Mercosul em 2010, não é mesmo Sr Goldzweig? Sugiro mudar sua tese de Iniciação Científica. Pelo menos o título. Ficaria "O ingresso da Vuvuzela no Mercosul: análise dos aspectos políticos, econômicos e sonoros". O resto deixa como está: assim esse folhet.. ops, tese, combinaria ainda mais com a sua credibilidade.
Antes nomeada Montana Grill Express, a página passou por sucessivas mudanças de nome, passando a compartilhar posts políticos em 2014 ao mesmo tempo em que mudou de nome.
No caso mencionado, a página foi responsável por dar atenção inicial ao lançamento do vídeo e, num momento posterior, por compartilhá-lo em suas redes no Facebook e Twitter.
Em um segundo momento, vemos o fenômeno se multiplicar em páginas similares e de baixa credibilidade jornalística.
De acordo com as buscas na seção de notícias do Google, das 23 notícias sobre o filme nos dois primeiros dias após sua estreia, apenas 9 eram de meios de comunicação com certa credibilidade (Veja SP, O Globo, Folha de Sao Paulo, Correio Braziliense, Gazeta do Povo, Poder 360 e Jovem Pan). Meu Deus! Esse celerado só pesquisou após a estreia! Sr Goldzweig, o filme recebeu um impulso até do filho do presidente e semanas antes! E ademais, o que você constatou é que o filme já teve milhões de visualizações sem os meios de comunicação "com certa credibilidade" E isso é inaceitável, né?
As outras 14 foram compartilhadas por páginas de baixa credibilidade ou sem reputação como meio de comunicação (entre elas Estudos Nacionais, Republica de Curitiba, Pleno News, Boletim da Liberdade, Renova Midia, F5, Gaucha ZH, Diario do Centro do Mundo).
Ato três: viralize
Com a multiplicação de informação por meio de páginas de baixa credibilidade, a atenção é disparada nas redes sociais, que passam a repercutir o tema.
Com o tempo, grandes meios de comunicação com maior audiência também passam a falar do tema, gerando ainda mais atenção dentro e fora das redes.
Os chamados “influenciadores”, atores com grande número de seguidores, são um ponto essencial para espalhar a mensagem e criar a polarização. Usei a ferramenta Crowdtangle para identificar quem são esses multiplicadores.
Desde a sua postagem no site Brasil Paralelo, o vídeo foi replicado pelos seguintes atores a partir das 19 horas do dia 2 de Abril, gerando milhares de curtidas e compartilhamentos por usuários nas redes sociais.
O gráfico abaixo mostra as 50 páginas mais compartilhadas com o link do vídeo no YouTube. Como em muitos casos, a mesma marca tem páginas no Facebook e no Twitter, são apenas 34 nomes no gráfico.
Quanto maior o círculo, maior o engajamento do post pelos usuários:

Eduardo Bolsonaro, Luciano Hang, Movimento Avança Brasil (ex-Montana Grill) e Bolsonaro Opressor 2.0 foram as páginas com maior impacto em termos de compartilhamentos por outros usuários, tanto no Facebook como no Twitter.
No campo dos influenciadores, também encontramos o mesmo fenômeno: páginas de origem duvidosa se passando por meios de informação, como no caso da “Últimas Notícias Express”, inicialmente chamada “Musicas Inesquecíveis” em 2014. Esses pentelhos amantes de música! resolveram se meter em política! Que bosta! Desde o DCE nunca enfrentamos oposição! Quanto mais dessa turma que empreende e gosta de música !

Das 50 fontes mais compartilhadas do vídeo, 27 delas estão atreladas a páginas de movimentos, supostos sites de notícias e outros nomes gerais (como Bolsonaro Opressor 2.0, Canal da Direita, Senso Incomum, Inteligentsia, entre outros).
O resto são pessoas reais e, como era de se esperar, Eduardo Bolsonaro e Luciano Hang são os principais representantes nessa categoria. (Acho que ele esperava a Marina Silva...). Eles servem como eixos centrais de transmissão devido a grande quantidade de seguidores.
A maior atividade de posts é identificada entre as 19 horas e meia noite do dia 2, quando o vídeo passa a viralizar nas redes. Se olharmos com atenção, é clara a estratégia gerada pelas postagens em sincronia das redes associadas à direita, em especial a conta de Eduardo Bolsonaro.
De acordo com buscas no Youtube, com dados do Google Trends, o pico de buscas pelo vídeo se dá às 19 horas do dia 2 de Abril (próximo do horário do post na conta de Eduardo Bolsonaro, que posta o vídeo às 19:09 no Twitter e às 19:15 no Facebook). Por que o espanto quanto ao horário de pico de recomendações ao filme? O próprio Brasil Paralelo havia avisado que o colocaria no ar as 7:30h do dia 02/04/2019!! Dá para desconfiar que Sr Goldzweig não viu o filme. E não gostou.

Para potencializar ainda mais o efeito viral, o vídeo original contém um link que facilita ao usuário a transmissão do vídeo em outras redes, como o WhatsApp. A plataforma foi central para a estratégia de viralização das mensagens de Bolsonaro nas eleições de 2018.

De forma resumida, o que temos é um fenômeno de geração de conteúdo controverso, ativação de redes estruturadas, disseminação por meio de portais de baixa credibilidade jornalística e multiplicação através de influenciadores. Enfim, ninguém que vive a soldo para divulgar o que aprendeu (palavra forte!) na área de Humanas da USP.
O que pode ser feito?
Esse ciclo de atenção coloca temas controversos no centro do debate público e político, reforçando narrativas que não teriam espaço de maneira natural em uma democracia. Esta até me divertindo e brincando até agora, mas vejo que o Sr Goldzweig, não. Ele fala sério quando determina que informações descentralizadas "ameaçam a Democracia" ??! E quem não quer defender a Democracia? Todos queremos! então nos resta acabar com a liberdade de comunicarmos?
Do lado de companhias como Facebook, Twitter e Google, deve haver uma preocupação maior de como essa informação é transmitida. Vejam essa frase! O Google tem que se preocupar se um documentário está sendo divulgado de maneira a não passar por um controle deles!
É natural que elas evitem retirar certos conteúdos sob o risco de serem acusadas de censura, mas elas não podem abdicar da responsabilidade de ensinar a seus usuários como seus produtos funcionam. Viu só?
Um dos caminhos é o fortalecimento de checadores de notícias (mais corretamente: censores. Tipo assim, Sakamoto. Muito equilibrado e crível!!), assim como de iniciativas de investigação em instituições acadêmicas e em organizações da sociedade civil. Outra forma de ajudar é dando acesso aos dados, para que mais análises como esta sejam feitas.
Precisamos de mais vozes no debate, mas essas vozes precisam se comprometer com um jornalismo de qualidade baseado em fatos. No Brasil, o churrasqueiro de 2013 é quem informa a sua decisão política em 2018.**
A manipulação das redes sociais ainda é uma caixa preta; saber o que está dentro dela fará cada vez mais diferença para os rumos da democracia
Sr Goldzweig, as coisas só vão piorar: desconfio que a credibilidade que a população deposita na imprensa tradicional e em tipos elitistas como você, só tende a cair.
Quer um conselho? Tente vender essa sua "consultoria" a um país autocrático. É mais fácil. Neles não tem redes sociais ou elas são controladas pelo tirano de plantão. Uma maravilha!

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