Skip to main content

Esses verdes vilões

19/03/2010 - 09h04

Esses verdes vilões


IVAN LESSA
colunista da BBC Brasil
Alguém aí reparou? Num evento vivenciado pelo ex-vice-presidente e candidato à presidência Al Gore, hoje em dia autor verde, cineasta verde, prêmio Nobel verde, um homem, enfim, mais verde, verde, verde que poema de Garcia Lorca?
Deram aí, com um destaque ao menos modesto, como aqui foi dado, que o Homem Verde, quase um super-herói criado pelo Stan Lee, foi flagrado e autuado por usar e abusar da energia em sua casa ao mesmo tempo em que corria país e mundo lecionando sobre a suprema necessidade de se economizar eletricidade?
Hem? Hem?
Na verdade, ao que parece, Gore não estava mais do que revertendo ao tipo clássico de --valem as aspas-- "verde".
Não sou eu quem o classifica e julga. Trata-se apenas de um rumoroso artigo, ao menos em certos círculos, recentemente publicado na revista especializada "Psychological Science", influente órgão nos meios psicológicos e científicos. O estudo leva o longo (estão gastando) título de, e eu traduzo com a fidelidade que me é peculiar, por "Será Que os ProdutosVerdes Fazem de Nós Melhores Pessoas?".
Para não perder muito tempo, vou logo adiantando que não, não fazem não. Alguns detalhes, no entanto, são necessários.
Os autores do estudo são dois canadenses, Nina Mazar e Chen Bo Zhong (da conhecida família dos Bo Zhong, de Vancouver), que em mais de 20 páginas argumentam que, quando as pessoas se sentem moralmente virtuosas por estarem salvando o planeta mediante --e aí vai um exemplo-- a compra de alimentos orgânicos para bebês, isso as leva a uma espécie de "licença para o comportamento egoísta ou moralmente questionável".
Os cientistas dão a essa condição especial o nome de "equilíbrio moral" ou "ética compensatória". Não chega a ser aquele prefixo 00 que dá ao agente James Bond licença para matar, mas é por aí. O par (não se trata, ao menos que se saiba, de casal) de cientistas prefere chamar, com alguma criatividade, de "halo de verde consumismo".
Da próxima vez em que os distintos leitores aí, se acharem frente a frente com um legítimo verde de carteirinha (cuidado com as imitações) repare bem na cabeça da pessoa em questão: tem halo? Será verde? Nesse caso, de que tom? Verde oliva ou abacate?
Os canadenses Mazar e Bo Zhong chegaram a outras conclusões interessantes. Aqueles que se dedicam compulsoriamente à compra de produtos verdes mostram-se menos dispostos a compartilhar com outras pessoas qualquer montante de dinheiro do que aqueles que optam por produtos convencionais.
Mais: os verdes tendem a trapacear nos videojogos. Tsk, tsk, tsk.
Em poucas e sucintas palavras: segundo os cientistas nesta coluna citados, os verdes são seis vezes mais capazes de roubar (é, eles usam o verbo "roubar", to steal) do que as pessoas comuns.
O que eu achei muito incomum.

Popular posts from this blog

BRASIL Análise: Como um filme pró-golpe (falso!) de 1964 viralizou nas redes sociais Pesquisador descreve os 3 passos da estratégia usada por influenciadores e sites sem credibilidade (veja a credibilidade dele logo abaixo da primeira foto no *) para fomentar a polarização virtual Por  Por Rafael Goldzweig*, especial para EXAME access_time 9 abr 2019, 16h36 - Publicado em 9 abr 2019, 16h03 Exército durante a Ditadura Militar de 1964 (Bettmann / Contributor/Getty Images) *Autor na Iniciação Cientifica da tese "O ingresso da Venezuela no Mercosul: análise dos aspectos políticos e econômicos", onde descreve "... A importância do tema justifica-se pela importância que o bloco adquiriria com a adesão desse novo país, tendo em vista a ampliação dos mercados consumidores e das reservas petrolíferas do bloco." Artigo de Rafael Goldzweig, coordenador de análise de redes sociais na Democracy Reporting International Na última semana, o f...

The great organic myths

Why organic foods are an indulgence the world can't afford They're not healthier or better for the environment – and they're packed with pesticides. In an age of climate change and shortages, these foods are an indugence the world can't afford, argues environmental expert Rob Johnston Thursday, 1 May 2008   Myth one: Organic farming is good for the environment The study of Life Cycle Assessments (LCAs) for the UK, sponsored by the Department for Environment, Food and Rural Affairs, should concern anyone who buys organic. It shows that milk and dairy production is a major source of greenhouse gas emissions (GHGs). A litre of organic milk requires 80 per cent more land than conventional milk to produce, has 20 per cent greater global warming potential, releases 60 per cent more nutrients to water sources, and contributes 70 per cent more to acid rain. Also, organically reared cows burp twice as much methane as conventionally reared cattle...

Nutrition-related health effects of organic foods

Am J Clin Nutr (May 12, 2010). doi:10.3945/ajcn.2010.29269 © 2010 American Society for Clinical Nutrition ABSTRACT Nutrition-related health effects of organic foods: a systematic review 1 ,2 ,3,4 Alan D Dangour, Karen Lock, Arabella Hayter, Andrea Aikenhead, Elizabeth Allen and Ricardo Uauy 1 From the NutritionPublic Health Intervention Research Unit Department of EpidemiologyPopulation Health (ADD AH AARU) the Health Services Research Unit Department of Public HealthPolicy (KL)the Medical Statistics Unit Department of EpidemiologyPopulation Health (EA) London School of Hygiene & Tropical Medicine London United Kingdom. 2 The UK Food Standards Agency had no role in the study design, data collection, analysis, interpretation, or writing of the report. 3 Supported by the UK Food Standards Agency (PAU221). 4 Address correspondence to AD Dangour, Nutrition and Public Health Intervention Research Unit, Department of Epidemiology and Population ...