“O Plano Real não passa de um remendo”
Gilberto Dimenstein
Folha de S.Paulo, 31. 7.1994
No dia 12 de abril do ano passado (2010), há 10 meses, Gilberto Dimenstein escreveu esta coluna
Assassinos contra Serra
O slogan
“Pode Mais” de José Serra é, do ponto de vista de marketing, ótimo. Um
fato, porém, é capaz de arranhar a força dessa mensagem: os assassinos
de São Paulo.
Tenho
comentado aqui por várias vezes que a pior notícia da gestão Serra foi o
aumento da violência, especialmente o roubo, que, no passado, bateu
recorde. Na semana seguinte em que Serra oficializa sua candidatura
presencial, sabemos que a taxa de homicídio aumentou 12% nos três
primeiros meses deste ano em relação ao mesmo período de 2009.
Uma das
grandes conquistas de São Paulo –e, em especial da cidade– foi a queda
contínua dos homicídios, agora revertida. Diga-se que, em comparação com
as grandes cidades, o índice é baixo. Mas é um tema que, certamente,
vai entrar no debate sucessório, caso as estatísticas não mudem
rapidamente.
Pode-se
explicar, em parte, o roubo pela crise econômica –mas não a taxa de
assassinato. Nesse caso, pelo menos até aqui, Serra pôde menos.
O TEXTO PRECONCEITUOSO DE GILBERTO DIMENSTEIN CONTRA OS EVANGÉLICOS
Gilberto
Dimenstein, para manter a tradição — a seu modo, é um conservador, com
sua mania de jamais surpreender — , resolveu dar mais uma contribuição
notável ao equívoco ao escrever hoje na Folha Online sobre a Marcha para
Jesus e sobre a parada gay. Segue seu texto em vermelho. Comento em
azul.
São Paulo é mais gay ou evangélica?
Sem qualquer investimento voluntário na polissemia, é um texto tolo de cabo a rabo; do título à última linha. São Paulo nem é “mais gay” nem é “mais evangélica”. Fizesse tal consideração sentido, a cidade é “mais heterossexual” e “mais católica”, porque são essas as maiorias, embora não-militantes. Ora, se a diversidade é um dos aspectos positivos da cidade, como sustenta o articulista, é irrelevante saber se a cidade é “mais isso” ou “mais aquilo”, até porque não se trata de categorias excludentes. Se número servisse para determinar o “ser” da cidade — e Dimenstein recorre ao verbo “ser” —, IBGE e Datafolha mostram que os cristãos, no Brasil, ultrapassam os 90%.
Sem qualquer investimento voluntário na polissemia, é um texto tolo de cabo a rabo; do título à última linha. São Paulo nem é “mais gay” nem é “mais evangélica”. Fizesse tal consideração sentido, a cidade é “mais heterossexual” e “mais católica”, porque são essas as maiorias, embora não-militantes. Ora, se a diversidade é um dos aspectos positivos da cidade, como sustenta o articulista, é irrelevante saber se a cidade é “mais isso” ou “mais aquilo”, até porque não se trata de categorias excludentes. Se número servisse para determinar o “ser” da cidade — e Dimenstein recorre ao verbo “ser” —, IBGE e Datafolha mostram que os cristãos, no Brasil, ultrapassam os 90%.
Como
considero a diversidade o ponto mais interessante da cidade de São
Paulo, gosto da idéia de termos, tão próximas, as paradas gay e
evangélica tomando as ruas pacificamente. Tão próximas no tempo e no
espaço, elas têm diferenças brutais.
Nessas poucas linhas, o articulista quer afastar a suspeita de que seja preconceituoso. Está, vamos dizer assim, preparando o bote. Vamos ver.
Nessas poucas linhas, o articulista quer afastar a suspeita de que seja preconceituoso. Está, vamos dizer assim, preparando o bote. Vamos ver.
Os
gays não querem tirar o direito dos evangélicos (nem de ninguém) de
serem respeitados. Já a parada evangélica não respeita os direitos dos
gays (o que, vamos reconhecer, é um direito deles). Ou seja, quer uma
sociedade com menos direitos e menos diversidade.
Está tudo errado! Pra começo de conversa, que história é essa de que “é um direito” dos evangélicos “não respeitar” os direitos dos gays? Isso é uma boçalidade! Nenhum evangélico reivindica o “direito” de “desrespeitar direitos” alheios. A frase é marota porque embute uma acusação, como se evangélicos reivindicassem o “direito” de desrespeitar os outros.
Agora vamos ver quem quer tirar o direito de quem. O tal PLC 122, por exemplo, pretende retirar dos evangélicos — ou, mais amplamente, dos cristãos — o direito de expressar o que suas respectivas denominações religiosas pensam sobre a prática homossexual. Vale dizer: são os militantes gays (e não todos os gays), no que concerne aos cristãos, que “reivindicam uma sociedade com menos direitos e menos diversidade”. Quer dizer que a era da afirmação das identidades proibiria cristãos, ou evangélicos propriamente, de expressar a sua? Mas Dimenstein ainda não nos ofereceu o seu pior. Vem agora.
Está tudo errado! Pra começo de conversa, que história é essa de que “é um direito” dos evangélicos “não respeitar” os direitos dos gays? Isso é uma boçalidade! Nenhum evangélico reivindica o “direito” de “desrespeitar direitos” alheios. A frase é marota porque embute uma acusação, como se evangélicos reivindicassem o “direito” de desrespeitar os outros.
Agora vamos ver quem quer tirar o direito de quem. O tal PLC 122, por exemplo, pretende retirar dos evangélicos — ou, mais amplamente, dos cristãos — o direito de expressar o que suas respectivas denominações religiosas pensam sobre a prática homossexual. Vale dizer: são os militantes gays (e não todos os gays), no que concerne aos cristãos, que “reivindicam uma sociedade com menos direitos e menos diversidade”. Quer dizer que a era da afirmação das identidades proibiria cristãos, ou evangélicos propriamente, de expressar a sua? Mas Dimenstein ainda não nos ofereceu o seu pior. Vem agora.
Os
gays usam a alegria para falar e se manifestar. A parada evangélica tem
um ranço um tanto raivoso, já que, em meio à sua pregação, faz ataques a
diversos segmentos da sociedade. Nesse ano, um do seus focos foi o STF.
Milhões de evangélicos se reuniram ontem nas ruas e praças, e não se viu um só incidente. A manifestação me pareceu bastante alegre, porém decorosa. Para Dimenstein, no entanto, a “alegria”, nessa falsa polarização que ele criou entre gays e evangélicos, é monopólio dos primeiros. Os segundos seriam os monopolistas do “ranço um tanto raivoso”. Ele pretende evidenciar o que diz por meio da locução conjuntiva causal “já que”, tropeçando no estilo e no fato. A marcha evangélica, diz, “faz ataques a diversos segmentos da sociedade” — neste ano, “o STF”. O democrata Gilberto Dimenstein acredita que protestar contra uma decisão da Justiça é prova de ranço e intolerância, entenderam? Os verdadeiros democratas sempre se contentam com a ordem legal como ela é. Sendo assim, por que os gays estariam, então, empenhados em mudá-la? No fim das contas, para o articulista, os gays são naturalmente progressistas, e tudo o que fizerem, pois, resulta em avanço; e os evangélicos são naturalmente reacionários, e tudo o que fizerem, pois, resulta em atraso. Que nome isso tem? PRECONCEITO!
Milhões de evangélicos se reuniram ontem nas ruas e praças, e não se viu um só incidente. A manifestação me pareceu bastante alegre, porém decorosa. Para Dimenstein, no entanto, a “alegria”, nessa falsa polarização que ele criou entre gays e evangélicos, é monopólio dos primeiros. Os segundos seriam os monopolistas do “ranço um tanto raivoso”. Ele pretende evidenciar o que diz por meio da locução conjuntiva causal “já que”, tropeçando no estilo e no fato. A marcha evangélica, diz, “faz ataques a diversos segmentos da sociedade” — neste ano, “o STF”. O democrata Gilberto Dimenstein acredita que protestar contra uma decisão da Justiça é prova de ranço e intolerância, entenderam? Os verdadeiros democratas sempre se contentam com a ordem legal como ela é. Sendo assim, por que os gays estariam, então, empenhados em mudá-la? No fim das contas, para o articulista, os gays são naturalmente progressistas, e tudo o que fizerem, pois, resulta em avanço; e os evangélicos são naturalmente reacionários, e tudo o que fizerem, pois, resulta em atraso. Que nome isso tem? PRECONCEITO!
Por trás da parada gay, não há esquemas políticos nem partidários.
Bem, chego a duvidar que Gilberto Dimenstein estivesse sóbrio quando escreveu essa coluna. Não há?
Bem, chego a duvidar que Gilberto Dimenstein estivesse sóbrio quando escreveu essa coluna. Não há?
Na
parada evangélica há uma relação que mistura religião com eleições,
basta ver o número de políticos no desfile em posição de liderança.
Em qualquer país do mundo democrático, questões religiosas e morais se misturam ao debate eleitoral, e isso é parte do processo. Políticos também desfilam nas paradas gays, como todo mundo sabe.
Em qualquer país do mundo democrático, questões religiosas e morais se misturam ao debate eleitoral, e isso é parte do processo. Políticos também desfilam nas paradas gays, como todo mundo sabe.
Isso
para não falar de muitos personagens que, se não têm contas a acertar
com Deus, certamente têm com a Justiça dos mortais, acusados de fraudes
financeiras.
Todos sabem que o PT é o grande incentivador dos movimentos gays. Como é notório, trata-se de um partido acima de qualquer suspeita, jamais envolvido em falcatruas, que pauta a sua atuação pelo mais rigoroso respeito às leis, aos bons costumes e à verdade.
Todos sabem que o PT é o grande incentivador dos movimentos gays. Como é notório, trata-se de um partido acima de qualquer suspeita, jamais envolvido em falcatruas, que pauta a sua atuação pelo mais rigoroso respeito às leis, aos bons costumes e à verdade.
Nada
contra –muito pelo contrário– o direito dos evangélicos terem seu
direito de se manifestarem. Mas prefiro a alegria dos gays que querem
que todos sejam alegres. Inclusive os evangélicos.
Gilberto Dimenstein precisa estudar o emprego do infinitivo flexionado. A inculta e bela virou uma sepultura destroçada no trecho acima. Mas é pior o que ele diz do que a forma como diz. Que história é essa de “nada contra”? Sim, ele escreve um texto contra o direito de manifestação dos evangélicos. O fato de ele negar que o faça não muda a natureza do seu texto. Ora, vejam como os militantes gays são bonzinhos — querem que todos sejam alegres —, e os evangélicos são maus: pretendem tolher a livre manifestação do outro. SÓ QUE HÁ UMA DIFERENÇA QUE A ESTUPIDEZ DO TEXTO DE DIMENSTEIN NÃO CONSIDERA: SÃO OS MILITANTES GAYS QUE QUEREM MANDAR OS EVANGÉLICOS PARA A CADEIA, NÃO O CONTRÁRIO. São os movimentos gays que querem rasgar o Artigo 5º da Constituição, não os evangélicos.
Gilberto Dimenstein precisa estudar o emprego do infinitivo flexionado. A inculta e bela virou uma sepultura destroçada no trecho acima. Mas é pior o que ele diz do que a forma como diz. Que história é essa de “nada contra”? Sim, ele escreve um texto contra o direito de manifestação dos evangélicos. O fato de ele negar que o faça não muda a natureza do seu texto. Ora, vejam como os militantes gays são bonzinhos — querem que todos sejam alegres —, e os evangélicos são maus: pretendem tolher a livre manifestação do outro. SÓ QUE HÁ UMA DIFERENÇA QUE A ESTUPIDEZ DO TEXTO DE DIMENSTEIN NÃO CONSIDERA: SÃO OS MILITANTES GAYS QUE QUEREM MANDAR OS EVANGÉLICOS PARA A CADEIA, NÃO O CONTRÁRIO. São os movimentos gays que querem rasgar o Artigo 5º da Constituição, não os evangélicos.
Civilidade é a diversidade. São Paulo, portanto, é mais gay do que evangélica.
Hein??? A conclusão, obviamente, não faz o menor sentido nem decorre da argumentação. Aquele “portanto” dá a entender que o autor demonstrou uma tese. Bem, por que a conclusão de um texto sem sentido faria sentido? Termina tão burro e falacioso como começou.
Hein??? A conclusão, obviamente, não faz o menor sentido nem decorre da argumentação. Aquele “portanto” dá a entender que o autor demonstrou uma tese. Bem, por que a conclusão de um texto sem sentido faria sentido? Termina tão burro e falacioso como começou.
No primeiro
texto que escrevi sobre a doença de Lula, censurei uma coluneta de
Gilberto Dimenstein em que ele afirma que o câncer do ex-presidente “vai
servir de lição”. Foi mais longe: “Infelizmente
é desse jeito, com as pessoas sentindo-se próximas e vulneráveis diante
de uma ameaça, que se consegue mudar atitudes” (cito no português original). Já disse o que penso sobre essa abordagem.
Parece que
os lulistas radicais não gostaram do texto e resolveram pegar no pé do
colunista. Aí ele fez o quê? Ora, resolveu atacar o “outro lado”,
escrevendo um texto intitulado: “O câncer de Lula me envergonha”. E
escreve:
“Centenas de e-mails pediam que Lula não se tratasse num hospital de elite, mas no SUS para supostamente mostrar solidariedade com os mais pobres. É de uma tolice sem tamanho. O que provoca tanto ódio de uma minoria?”
“Centenas de e-mails pediam que Lula não se tratasse num hospital de elite, mas no SUS para supostamente mostrar solidariedade com os mais pobres. É de uma tolice sem tamanho. O que provoca tanto ódio de uma minoria?”
Marta é a nova estrela do PSDB?
A pergunta
do título é uma das principais questões eleitorais na cidade de São
Paulo, especialmente depois que ela recusou comparecer à convenção que
formalizou a candidatura de Fernando Haddad. Temos aqui algumas
possibilidades.
Marta
continua Marta, comandada muitas vezes mais pelas emoções do que pela
razão. Ela tinha tudo para se reeleger (afinal, contava a seu favor com
boa popularidade e ações positivas em sua administração), mas perdeu, em
boa parte, pela sua baixa inteligência emocional. Estaria ela agindo
apenas pelo ressentimento de ter sido preterida?
Ela previu que a escolha de Haddad seria o melhor caminho para a derrota. Será que ela não quer desmontar sua previsão?
Outra
possibilidade é um cálculo político. Essa é uma eleição dura, Marta tem
força na periferia. Sem seu apoio, Haddad, que, por enquanto, é 100%
“lula-dependente”, teria ainda mais dificuldades. Será que ela está
barganhando um cargo federal, talvez um Ministério, ou a candidatura ao
governo de São Paulo?
Seja lá o que for, até esse momento ela conseguiu virar uma estrela do PSDB.
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