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A República Agrotóxica do Brasil

Denis R. Burgierman
17/Ago 17h22 (atualizado 17/Ago 17h22)

Link para matéria: https://www.nexojornal.com.br/colunistas/2017/A-Rep%C3%BAblica-Agrot%C3%B3xica-do-Brasil

Meus comentários em azul.

Este país é uma operação de exportação de commodities. Todo o resto está a serviço disso.

Você provavelmente nem sabe disso – não está em nenhum jornal. Mas, daqui a alguns dias, o governo vai baixar uma medida provisória mudando radicalmente o regime de aprovação de agrotóxicos no país. Segundo os ativistas (tradução: esquerdistas) que estão tentando acompanhar essa história (sugere que alguém está impedindo), tudo indica que a nova lei, entre outras coisas, permitirá o registro de agrotóxicos mesmo que eles sejam comprovadamente cancerígenos, retirará a caveira com ossos das embalagens e rebatizará os “agrotóxicos” como “defensivos fitossanitários”, porque todo mundo precisa de um “rebranding” de vez em quando. (tirando a última frase, que não merece comentários, o que o governo brasileiro está propondo é atualizar a legislação para equipará-la a de outros países. Incluindo os de primeiro mundo. O processo hoje é tão lento e burocratizado que demora até 7 anos! contra 2 a 3 da maioria dos países sérios. Hoje existe uma lista enorme de Defensivos registrados na Europa e EUA que não tem registro no Brasil devido a lentidão e suposto rigor do processo. Na verdade trata-se apenas de ideologia anti-ciencia que infestou o país desde 1989 e que só piorou desde a chegada da extrema esquerda ao poder em 2003) Tudo sem nenhuma discussão pública, decidido a portas fechadas entre Michel Temer, o ministro da Agricultura Blairo Maggi e os parlamentares ruralistas que ocupam quase metade das poltronas acolchoadas do Congresso Nacional. (Estamos em uma democracia representativa e as discussões no congresso são legítimas: o que o Sr Burgierman parece não aceitar)Só sei dessa notícia porque assisti a uma reportagem no Canal Rural que continha uma entrevista com o ministro, na qual ele usa palavras difíceis (O Blairo é simples, embora Engenheiro Agrônomo. Duvido que tenha sequer a capacidade de falar de maneira muito rebuscada, mas parece ser demais para um ignorante no tema como o Sr Burgierman) para ocultar o que a medida provisória realmente pretende. Não é interessante essa característica da república brasileira? Que decisões fundamentais para o Brasil – o futuro da economia, o modelo produtivo do país, o alimento que comemos, o câncer da geração dos nossos filhos – sejam tomadas assim nas sombras, com cobertura apenas do Canal Rural? O Brasil, visto de alguns ângulos, tem aparência de democracia – imprensa relativamente livre, sufrágio universal, instituições mal e mal de pé. Mas, nas questões realmente cruciais, isso daqui é uma ditadura – está tudo pré-definido e fechado para discussão. ("Chame os outros do que você é" Parece familiar?). Fui percebendo isso ao longo das últimas duas semanas, enquanto pesquisava o assunto para um roteiro de TV (o “Greg News” desta sexta (18), assista!). (Assessor do Gregorio Duvivier! Vá vendo! Aliás, não perca seu tempo: tem coisas melhores para ver). Conversei com um defensor público chamado Marcelo Novaes, que ficou me contando do quanto é fácil ser latifundiário no Brasil – desde que você possua um latifúndio, claro. Enquanto eu fico aqui lutando para escapar da malha fina da Receita depois de dar a eles 30% de tudo que eu produzi, os milionários monocultores exportadores, quando muito, pagam 5%, segundo os cálculos de Novaes. São isentos de contribuir com a Previdência – aquela que o Temer diz que vai quebrar por causa de você. (é do time que aposta que não vai quebrar. Vá vendo). Se você somar todo o Imposto Territorial Rural que todos os grandes fazendeiros pagam em todo o território nacional, não dá aquilo que São Caetano do Sul arrecada com IPTU, também segundo os cálculos de Novaes. Você paga por sua terra milhares de vezes mais que o Blairo Maggi. Agrotóxico no Brasil tem benefício fiscal – descontão de 60% no ICMS, isenção de IPI. Não surpreende que em nenhum outro país do mundo venda-se tanto agrotóxico (benefício fiscal a um produto, como se sabe, serve para incentivar seu uso). Bom, juntando todo o lamento acima, pode-se dizer que a agricultura brasileira é a que menos recebe subsídio no mundo. Menos que a China hoje. E muito menos que Europa e USA. O Brasil é o maior mercado do mundo para as grandes multinacionais de agrotóxicos, (O uso de defensivos agrícolas por tonelada produzida ou por área é dos menores no mundo) -  que exportam bilhões de dólares ao ano para cá, e que são parceiras comerciais dos grandes fazendeiros que dominam o Congresso. (As empresas de Defensivos são fornecedoras de insumos e seus clientes - os fazendeiros - não "dominam" o Congresso. Ademais os defensivos agrícolas tem uma das melhores taxas de retorno sobre o valor investido nessa ordem: 1. Sociedade, 2. Agricultor e 3. Indústria. Você não leu errado não: o uso de Defensivos Agrícolas é mais vantajoso para a sociedade que para a própria indústria ou produtores rurais!). Os congressistas da bancada ruralista elegem-se com o discurso de que são defensores da gente do campo e da agricultura que alimenta o país. (Difícil para esse repórter entender que foram eleitos. E-L-E-I-T-O-S) Trata-se de uma mentira. O setor que eles representam é, sim, fundamental para a balança comercial brasileira – contribui com quase metade das receitas de exportação. Mas gera uma quantidade pífia de empregos: (a produtividade do setor é muito alta: produz-se muito com pouco, incluindo mão de obra. A maior parte dos que emigraram do campo não quer mais viver lá e isso foi uma decisão das pessoas, por pressão econômica ou melhores condições de vida, mas livre. Ademais grande população Rural nunca foi sinônimo de país rico: novas profissões devem ocupar a maioria das pessoas que antes viviam no campo. Para ilustrar, os EUA hoje tem baixo desemprego com menos de 4% de sua população no campo), embora ocupe três quartos das terras produtivas do país (de cabeça: menos de 18% da área do Brasil é usada para a agricultura), oferece apenas um quarto dos postos de trabalho. Ou seja, essa fortuna fabulosa que as exportações de commodities brasileiras geram se espalha muito pouco pelo resto da economia. (É só ver o IDH das cidades agrícolas do Centro Oeste para ver o quão ruim a agricultura é para o país...) Mentira também que as grandes monoculturas alimentem o Brasil. O que alimenta o Brasil é a agricultura familiar, que contribui com 70% do que comemos. (Blairo Maggi é um agricultor familiar. Esse termo é falsamente usado como sinônimo de pequeno agricultor ou, pior, como assentado do MST, o que é um sofisma. Agricultor familiar hoje - esse que produz 70% do que comemos - não tem "roça" ou carro de boi, mas tem trator e usar sementes, adubo, defensivos, OGM e outras tecnologias modermas). As monoculturas que controlam 75% das terras produtivas do Brasil são incapazes de produzir o que precisamos para nos alimentar: limitam-se a fazer commodities, parte delas destinadas a usos industriais, como álcool para combustível (excelente oxigenante renovável), algodão para tecidos, tabaco para cigarros. (juntando essas 3 culturas, não dá 15% da área plantada...E que feio tentar associar monocultura com produção de tabaco...Esses malditos produtores de tabaco!! Por que não caberia aqui os de maconha Sr Burgierman?) As indústrias de soja, milho, carne e cana são imensas, mas alimentam muito mais bicho que gente (Acho que o Sr Burgierman é vegetariano...), e muito mais estrangeiro que brasileiro. (Aqui vale uma pausa mais longa. É fetiche esquerdista "pensar um agricultor" idealizado que se autossustente, ou seja, que não tenha excedentes para comercializar. Não sei de onde vem essa tara, mas só faz sentido se você quiser mantê-los na pobreza. Outro ponto importante: o Brasil tem a maior área para expansão agrícola disponível no mundo sem derrubar uma só arvore! A China e a Índia não tem. Se você acha correto deixar de exportar alimentos, você está C&A para esses povos e isso pode significar fome e miséria para eles. E para nós! Basta lembrar que , segundo o Copenhaguen Consensus, a implementação da rodada de Doha está no topo da lista das ações mais importantes para reduzir a pobreza no mundo). Os caras se autobatizaram bancada ruralista (?! No creo. Isso é mais uma típica novilíngua esquerdista usada pejorativamente), como se fossem os defensores de toda a zona rural do país. (Eleitos. Entendeu? democracia, representatividade, voto) Na realidade, eles estão a serviço de bem poucos – só 1% dos proprietários rurais, que controlam metade das terras do país, com um modelo de produção completamente dependente de meia dúzia de multinacionais petroquímicas que ensopam o Brasil de veneno, prejudicando a saúde de toda a população rural. (quanta choradeira antidemocrática e bla bla bla anticapitalista!) Não devíamos chamá-los de ruralistas – é a bancada agrotóxica. (mais novilíngua pejorativa) E agora fico sabendo que ela está toda mobilizada para mudar o sistema eleitoral de um jeito que o distorce ainda mais. A ideia do distritão praticamente assegura aos deputados-latifundiários os assentos no Congresso relativos às regiões das quais são donos. (pensa que os representantes do Agro são Coroneis, com currais eleitorais e tudo! Feito... o PT!) E o engordamento do fundo partidário cria um mecanismo para que o próprio Estado financie o saque que está sofrendo. (Mais um sofisma: Associar o fundo partidário - sou contra - aos representantes do Agro). É uma reforma pensada para reeleger quem já tem mandato. E, consequentemente, para gerar incentivos ainda mais pesados para a concentração cada vez maior de terras, o que vai tornando o Brasil cada vez mais injusto e desigual. (Culpar o Agro pela injustiça!?) Enquanto todos os países modernos tentam criar modelos inclusivos, que levem a uma distribuição de terra mais eficaz e igualitária, (onde?) com mais gente podendo participar do jogo, aqui sempre fomos um país com oportunidades para poucos, que ficam cada vez mais poucos. Por tudo isso, o setor agrário exportador tem um poder completamente desproporcional na nossa república. É incrível como as instituições da democracia brasileira simplesmente não funcionam quando deparam com esse poder. (só falta conclamar o "povo" e gritar "não passarão!") O sistema de saúde rural atende mal quem aparece reclamando de sintomas causados pelo excesso de veneno e nem sequer monitora esses casos. (quanta baboseira. É só procurar os centros de atendimento pra ver o quanto é bom trabalho nessa área. O professor Trapé da UNICAMP poderia ter sido consultado...) O sistema de justiça em regiões produtoras de commodities praticamente não investiga assassinatos cometidos por grandes fazendeiros – tipo de crime que está batendo recordes no Brasil. (acusação grave que merece ser investigada. Se provada falsa o Sr Burgierman deve responder por injúria) A imprensa e a população não têm acesso a dados de óbvio interesse público, como os de incidência de câncer em regiões produtoras, ou de benefícios fiscais ao agronegócio – eles são praticamente impossíveis de encontrar, de tão escondidos que estão no cipoal jurídico e fiscal desta nação. (O Sr Burgierman poderia ser menos preguiçoso e consultado quem entende antes de falar essas asneiras. Tudo está disponível.) O sistema político nem discute, a sociedade mal debate. Vivemos na República Agrotóxica do Brasil. Nessa república, pagamos impostos tão altos, em grande parte, para financiar os impostos baixos que a bancada agrotóxica garante para o seu setor. Algo similar ocorre em relação aos juros absurdamente altos que nos impõem para subsidiar os juros baixos deles. Vivemos em permanente deficit de justiça, de saúde e de educação, para que eles lucrem mais. Aceitamos termos menos voz na democracia para que eles possam moldar o país aos seus interesses. (já disse: os MENORES subsídios do mundo são os brasileiros!! Ainda bem! digo eu) Não me parece justo.

Deu para ter uma ideia do que é justiça para o Sr Burgierman. Ademais, se seus pensamentos fossem seguidos, todos nós sabemos onde iríamos chegar: mais fome e mais miséria. Além disso, demonstra uma preguiça enorme em ilustrar seu "artigo" (está mais para panfleto) com alguns números que pudessem corroborar suas "teses": coletivismo Maoista, que matou mais de 70 milhões de chineses.


Denis R. Burgierman  é jornalista e escreveu livros como “O Fim da Guerra”, sobre políticas de drogas, e “Piratas no Fim do Mundo”, sobre a caça às baleias na Antártica. É roteirista do “Greg News”, foi diretor de redação de revistas como “Superinteressante” e “Vida Simples”, e comandou a curadoria do TEDxAmazônia, em 2010. Escreve quinzenalmente, às sextas-feiras, sobre a vida e suas complexidades.

OS ARTIGOS PUBLICADOS PELOS COLUNISTAS SÃO DE RESPONSABILIDADE EXCLUSIVA DE SEUS AUTORES E NÃO REPRESENTAM AS IDEIAS OU OPINIÕES DO NEXO.

Link para matéria: https://www.nexojornal.com.br/colunistas/2017/A-Rep%C3%BAblica-Agrot%C3%B3xica-do-Brasil

PS.: Inspirado pelo autor dessa, fiquei com preguiça de colocar mais dados, mas tudo o que afirmei está embasado e posso demonstrar.

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